segunda-feira, 24 de maio de 2010

Diário de Bordo III - A Carta


Porto Alegre, 16 de maio de 2010


Oi você, lhe escrevo de longe.
Lhe escrevo de longe, porque sinto sua falta. Aliás, "de longe" sempre estivemos, não é? E ao mesmo tempo, muito perto.
Lhe escrevo de longe, porque talvez não tenha conseguido falar tudo o que quis quando estive por perto.
Lhe escrevo de longe, porque é assim que consigo me expressar. Por que é assim que consigo dizer o quanto você tem me feito bem desde que nos conhecemos. Se lembra quando eu disse que amor é dado de graça? Então, continuo a te amar simplesmente por te amar.
Saiba que se você estiver feliz, eu também estarei. E se estiver triste, daqui poderei sentir sua dor. E esta dor será minha também...

Hoje não sinto mais só a falta da sua voz, ou da sua risada. Hoje sinto falta também do seu sorriso único e sincero. Sinto falta do seu cheiro, do seu abraço. Sinto falta de segurar sua mão.
Sinto falta de alguns sonhos compartilhados, de histórias confidenciadas. Sinto falta da sensação de te dizer "oi", e até mesmo de quanto doeu te dizer "adeus".
Sinto sua falta, e a saudade já me mata. Não sei bem se é o frio ou a distância que mais me tortura.
Mas de uma coisa estou certa: guardarei pra sempre a lembrança de estar ao teu lado, na esperança de que este dia volte a existir. Sim, apenas um dia. 24 horas - quase que cronometradas - ao seu lado.

Ei, você... Te amo. Daquele jeito que não sei explicar - talvez nem queira - e que você também não entende.

Se cuida tá? Tô distante, mas tô presente.

"Das lembranças que eu trago na vida, você é a saudade que eu gosto de ter. Só assim, sinto você bem perto de mim. Outra vez."

Um beijo e um abraço bem apertado,

Luiza.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Diário de Bordo II - Dois Reais

Balneário Camboriú, 13 de maio de 2010



Se pudesse, teria chorado. Até poderia tê-lo feito, mas felizmente (ou infelizmente) não resolveria nenhum dos meus problemas. Há tempo de orar e há tempo de agir. Este certamente era o momento de agir.

Abri a porta daquele quarto de hotel, saí e girando a chave, me despedi do aconchego das cobertas, rumo ao desconhecido. Não... rumo ao desconhecido fiz desde o momento que pisei no avião.

Resolvi sair, me direcionei até a praia, que ficava a poucos metros distante dali. Andei até o final dela, observando as pessoas que estavam por lá. Parava de vez em quando e sentava para sentir a brisa leve do mar, ou simplesmente para ouvir o barulho das ondas quebrando naquele cenário paradisíaco.

"Mas que sede!", pensei comigo mesma. Logo mais a frente, avistei um quiosque daqueles que podemos encontrar aos montes na orla de Balneário Camboriú. Apenas um velhinho estava sendo atendido e saboreava uma deliciosa cervejinha à beira-mar.

- Oi, bom dia! Você tem água mineral?, perguntei.

- Com gás ou sem gás?, a pessoa que estava atrás do balcão me perguntou em resposta.

- Sem gás! disse eu, convictamente.

- Tenho sim. Dois reais.


"Dois reais? Mas por que tem de ser tão caro? Apenas uma garrafinha de água!!", pensei comigo, sem falar em voz alta. Bom, mas com a sede que eu estava, não pensei duas vezes. Abri a carteira, tirei a nota de dois e entreguei. Então disse educadamente:

- Muito Obrigada!

- De nada, não precisa agradecer! E erguendo os óculos de sol, fitou-me com olhos tão azuis quanto o céu maravilhoso em dia ensolarado naquela cidade.

Abri um sorriso quase que involuntariamente, peguei minha garrafinha de água e, indo embora, pensei: "Realmente, esses dois reais foram bem pagos".

A viagem tem me rendido bons textos, mas vou publicando aos poucos. Obrigada a todos pela leitura e pelos comentários! Até mais!

sábado, 15 de maio de 2010

Diário de Bordo I - O sorriso

Aeroporto de Congonhas, São Paulo, 12 de maio de 2010.

No começo, parecia uma saga.

-"Você fará uma odisséia", disse a moça do check in, "3 vôos, 2 longas conexões, quase 12 horas de viagem... Você tá preparada?!"

-"Tenho que estar, né?!", disse eu, rindo.

Bom, vale ressaltar que foi uma verdadeira saga. A segunda conexão, com mais de 3 horas de intervalo entre um vôo e outro foi uma experiência única. Mesmo que massacrante.
Talvez o ar completamente executivo do aeroporto, ou a frieza, a pressa das pessoas... Não sei o que realmente mais me incomodava. O local estava lotado. Um vai-e-vem danado de gente. Malas. Paletós. Pessoas. No desembarque, filas de pessoas com plaquinhas com alguma referência para o viajante que chegava. "Vivo empresa". "Sr. Fulano de tal". E mais tantas outras do gênero.
Não. Nenhuma estampava meu nome. Aquele nem sequer era o meu destino final. Apenas uma longa conexão.
Ao passear pelo aeroporto, vários notebooks abertos pelas mesas dos cafés e pessoas grudadas ao conteúdo exibido pelo monitor. Algumas outras pessoas em pé, conversando. A mãe segurando o filho enquanto conversava com alguém no orelhão. Gente chegando e contando como foi a viagem. Gente correndo, atrasada e apavorada com a possibilidade de perda de vôo.
E observando cada rosto, cada semblante que cruzava meu caminho, uma expressão (visivelmente a mais bonita do dia) me prendeu o olhar.
Foi apenas por um segundo. Até menos que isso. Centésimos de segundo. Profundos de tanta emoção que me trouxeram. Essa expressão, nesses míseros centésimos de segundo, fizeram meu coração pulsar tão fortemente e tão frequentemente que tive de segurar para que não saísse saltitando pela boca.
É isso aí. Pela boca. De onde veio o sorriso mais inacreditável que já vi e que transformou aquela troca de vôos em um momento único. Um belo e simples sorriso.
Mas se engana quem pensa que se dirigia a mim (ah! quem me dera que tivesse tido tamanho privilégio). Provavelmente estava apenas se divertindo com alguma coisa que foi dita ao outro lado do telefone, ou expressava simplesmente a felicidade por ouvir a voz de alguém especial.
Seja lá o que tenha sido, se pudesse, agradeceria o bem que o sorriso me proporcionou. Aliás, agradeço aqui (vai que num acaso do destino aquele belo sorriso se abra outra vez ao ler este agradecimento?! rsrs)

Muito obrigada por ter alegrado um pequeno instante da minha vida, belo sorriso. Certamente o mais belo que já vi em toda a vida, e que seria impossível de esquecer, mesmo que eu quisesse.

Beijos a todos!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A noite

A noite estava bonita. Uma lua cheia e plena, acompanhada de belas estrelas no céu azul. Um friozinho gostoso de sentir na pele. Para se sentir completa, ela só precisava de uma companhia. Não uma companhia, a companhia. Aquela que ela visivelmente não precisava só naquela noite, mas em todas as anteriores que tinham se passado vazias. Daqueles seus 26 anos de vida, ela não se recordava de ter vivido um momento tão longo de solidão. Sentia falta de coisas que há muito já tinham sido vividas. Vividas em sonhos. Como poderiam tais sonhos ser tão reais?

Então naquela noite mesmo, ela decidiu sair de casa, ir caminhar à beira da praia, molhando os pés na água geladinha do mar. O cheiro de maresia, o vento forte esvoaçando seus cabelos e a companhia das estrelas faziam-na se sentir mais próxima de quem ela sentia falta.
Aos poucos foi sentindo como se aquela presença fosse tão real, que passou a não se sentir mais tão só, estava de novo acompanhada de sua melhor companhia.

De repente, sentiu alguém tocá-la em sua cintura, e lhe dar o abraço mais aconchegante que ela tinha experimentado.

-Que Saudade - era só o que ela conseguia dizer - pensei que você não voltaria mais. Sussurrando e aproveitando a imensidão daquele abraço.

E durante aquele longo momento de silêncio congelante, ela tornou a indagar:
-Porque você me abandonou?
-Você sabe que não te abandonaria jamais. Senti sua falta a cada noite que estive distante. - Dizia a voz, tão suave e límpida, que a respiração da moça tinha se acalmado.

Caminharam ao longo da praia, a areia molhada marcada sob seus pés, e um horizonte infinito por detrás das ondas fortes.

-Queria que todas as noites fossem assim, ao teu lado. Queria te ter por perto sempre! Tornava a dizer a moça, na esperança de prolongar aquele momento ao lado de quem amava.
-Só nos afastaremos se quisermos. Mais uma vez a voz parecia saber dizer justamente o que a moça esperava ouvir. Numa única e misteriosa frase.

E naquele momento esqueceram qualquer pessoa que passeava na orla, ou ali mesmo próximo ao mar. Naquele momento, se abraçaram de novo e se beijaram como se estivessem sós. Como se o mundo não abrigasse mais ninguém além daqueles dois corpos, além daquelas duas almas.

"Você é assim, um sonho pra mim e quando eu não te vejo...". O celular da moça tocou, despertando sua mente do que acabara de ser mais uma noite de sonhos. Mais um daqueles sonhos.

-Não acredito que foi só mais um sonho! Disse ela consigo mesma.

Levantou-se para mais um dia de trabalho e, apesar da reclamação que acabara de fazer, sabia que estava feliz de uma forma que há muito tempo não sentia igual. Ao mesmo tempo, não podia deixar de lembrar que aquele seria mais um longo dia, que lhe afastaria da noite, que lhe afastaria de seus sonhos.
Foi então que a moça percebeu: "Quanto mais alto se sobe, maior é a queda. Quanto mais eu me aproximo destes sonhos, mais longe fico da realidade. Tenho medo de despertar de vez".

Obrigada a todos pela leitura. Estou de volta! :)